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segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Embora

Partistes de mim, e sem querer-te,
Jamais compreendi teu desapego,
Assim, destes a mim teu sossego,
Não quis aqui somente amarrar-te.

Folheio nos livros, a querer ler-te,
No infinito, linhas do teu ego,
Em teu corpo, uma luz, segrego,
Um anseio pequeno a desejar-te.

E fostes lindo e, então impulsivo,
Na morte casta, o corpo é sorte,
Em teu jardim há só um copo cheio.

De amor, efeito raro e abusivo,
Uma dose, um cheiro de morte,
Das flores negras, secas de teu enleio.

Por Ana Cristina Matias

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

A vida

E o que importa se atrás da porta o fantasma é o mesmo,
Se no desejo de despertar um amor,
O coração está com sua porta fechada.
E as flechas lá fora voam com o vento,
Como os grãos de areia soltos pelas ruas.
O que importa se pela janela apenas vejo uma imagem,
Que no final acaba como mais uma paisagem,
E na passagem de uma vida, o descontentamento.
Ouvir o som da rua, as crianças gritando e correndo,
Em que a infância é vivida sem esperanças,
E na misera lembrança de um passado,
Os gritos se dissipam com o som da chuva.
No interior desse coração, um convento,
Uma pequena recordação de sofrimento,
E na fechadura... uma chave quebrada,
No final, uma vida, imensa e perdida.

Por Ana Cristina Matias

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Olavo Bilac



Este, que um deus cruel arremessou à vida,
Marcando-o com o sinal da sua maldição,
— Este desabrochou como a erva má, nascida
Apenas para aos pés ser calcada no chão.

De motejo em motejo arrasta a alma ferida...
Sem constância no amor, dentro do coração
Sente, crespa, crescer a selva retorcida
Dos pensamentos maus, filhos da solidão.

Longos dias sem sol! noites de eterno luto!
Alma cega, perdida à toa no caminho!
Roto casco de nau, desprezado no mar!

E, árvore, acabará sem nunca dar um fruto;
E, homem há de morrer como viveu: sozinho!
Sem ar! sem luz! sem Deus! sem fé! sem pão!
sem lar!

Presença!!